Certo dia recebi a missão de entrevistar um Papai Noel,
daqueles legítimos, com barba própria e carro também, sim, ele era independente
e não possuía renas!
Já nos momentos finais da minha preparação chegou a hora de
ir pra casa dele. Duas voltas no bairro até encontrar sua rua, tão discreta que
fácil foi passar direto por ela sem entrar ali...a-l-í.
Bem, vamos tentar de novo, mas sei que entra numa dessas transversais
da Otto Renaux...
- Senhora, onde fica a Rua Evilársio Gevaerd?
- A primeira à esquerda, moça!
- Ah! Eu sabia...
E então meu cinegrafista e eu entramos na, estreitíssima,
Evilásio Gevaerd e finalmente encontramos sua residência.
-Mas olha só, lá está aquele carro que ele usa no Natal! Ué,
cadê ele?
-Ho-ho-ho!
Esperem aí fora, o cachorro é bravo!
Olha, sempre falam “Pode entrar que o cachorro não é bravo”,
ele já avisou que o dele era!
Entramos, fomos admirando sua residência, vendo
traços de que ali morava um Papai Noel de verdade, dava de ver nos detalhes da casa, tinha relógios gigantes na
parede, neste momento descobri que ele também trabalhava com conserto de relógios! (A gente
pode fazer duas matérias, né? Nem pensar, Juliane, hoje é só essa!).
O cinegrafista preparou o tripé, a câmera, o microfone, se
posicionou num lugar que a luz que vinha de fora não nos desfavorecesse, eu
ajeitei a gente no sofá, e começou nossa entrevista. Começou como uma
entrevista, eu fui conversando, fui lembrando da infância, fui me remetendo aos
meus antigos natais, onde, literalmente eu esperava o ano inteiro pela minha
boneca. Mas tinha que ser dada pelo Papai Noel, se não que graça teria?
- Papai Noel, mas como o senhor se chama?
- Pingo!
- Hãn...
- Meu nome é Rubens Seyferth.
- Como?
- Rubens Seyferth.
- O senhor tem um sobrenome difícil.
- Não, é bem facinho, só escrever S-E-Y-F-E-R-T-H.
O Papai-Noel riu. E eu ri também, depois!
A gente ia se emocionando junto conforme a conversa tomava
rumos nostálgicos e o cinegrafista já sinalizava que tínhamos que ir
finalizando a entrevista, pois o tempo estava se esgotando. Aliás, essa
história de tempo limite em entrevista que a gente viaja junto com o
entrevistado é sacanagem, né? Dá vontade de ignorar o cinegrafista, mas depois
ele me pega, (risos)!
A gente finalizou a entrevista, nos despedimos e fomos embora!
Fui falando dele no caminho, e da minha emoção em entrevistar o Papai Noel.
Dias após isso, encontramos seu Pingo no Shopping Gracher,
fazendo a alegria das crianças.
- Será que ele vai se lembrar de mim?
- Será que ele vai se lembrar de mim?
Veio em minha direção, e me deu um monte de bala...
-Poxa, eu estou me sentindo muito feliz,
acabei de ganhar bala do Papai Noel, e...será que ele deixa eu fazer uma foto
com ele?”
Fiquei tímida e fugi, sem fazer a foto. (eu ri sozinha aqui
na sala agora se lembrando disso!).
Sábado, 22 de
novembro de 2014
Hoje é sábado, fui para a rádio, apresentamos o Jornal, hoje
está um dia cinza pela manhã, tempo nublado. Cumpri meus afazeres, a tarde fui no meu projeto da faculdade com os Bombeiros e a noite fiquei em casa. Certo momento, vagando
pela internet, me deparo com uma foto do Papai Noel Pingo. Sem ler a legenda,
automaticamente me veio à mente que, de fato, já estamos no natal, e que Seu
Pingo já está se preparando para viver seus dias mais esperados do ano.
Deixa eu ver o que está escrito aqui...
-Descanse em paz, Papai Noel, vamos sentir saudades”.
Oi? Oi? Que história é essa? E o natal das crianças? O Papai
Noel do Shopping Gracher? E os dias mais iluminados do Seu Pingo, como fica?
Gente, é natal e o Seu Pingo morreu?
Levanto da cadeira, dou meia volta, não entendendo o porquê
daquilo...
Caio na realidade, mas demoro em aceitar. Pego o telefone,
ligo pra Central Funerária e tenho a confirmação. Faço 30 perguntas para o
operador e ele só vai confirmando o que eu torcia para não ser verdade...sim,
estavam mesmo falando da mesma pessoa que eu não queria que partisse, nunca!
Parece pouco, mas foram 70 anos sendo Rubens, quase uma vida
sendo Pingo, mas o coração foi e sempre será do Papai Noel, o mais doce,
verdadeiro e brincalhão – Pingo!
Então só me resta o conformismo e deixar aqui meus mais sinceros e profundos votos de sentimentos à família, amigos e, permitam-me à ousadia, também às crianças que acreditam na magia do Natal - como eu!
J.F.